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Inter, intra, multi e transdisciplinaridade: parte I

(Parte 1 de 3)
Autor: Thiago Dutra de Araújo

Já há algum tempo as palavras ‘interdisciplinar’, ‘intradisciplinar’, ‘multidisciplinar’ e ‘transdisciplinar’ vêm aparecendo em diversos encontros pedagógicos, com o propósito de chamar a atenção do professor ouvinte para alguma sugestão de mudança a ser feita na forma de conduzir suas aulas; no entanto, não são raros os casos em que essas palavras são usadas levianamente ou, até mesmo, de forma equivocada.

Ao buscarmos as relações entre essas palavras, é interessante analisarmos antes um padrão etimológico entre elas; ao excluirmos os prefixos ‘inter’, ‘intra’, ‘multi’ e ‘trans’, obtemos algo em comum: a disciplinaridade.

Dentro do contexto pedagógico, muitos associam a palavra disciplina a uma determinada área do conhecimento: a Matemática, a Geografia, ou a Biologia, por exemplo, são tidas como disciplinas do currículo escolar. Historicamente, as disciplinas foram criadas com o objetivo de dividir e organizar todo o conhecimento a ser adquirido pelos alunos durante sua vida escolar, ou seja, elas tinham (e têm) como propósito uma fragmentação do todo a ser apreendido.

As relações entre as disciplinas são chamadas de relações disciplinares e são exemplos dessas relações a interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade. Note que a intradisciplinaridade não é uma relação disciplinar, pois ela analisa somente as relações entre os conhecimentos pertencentes a uma mesma disciplina: como as fronteiras entre esses conhecimentos são estabelecidas.

Tais fronteiras vêm sendo estudadas há anos por pesquisadores, que definiram uma escala cujo objetivo é medir o grau de intensidade com que elas são estabelecidas: quando se atribui o grau ++, isso significa que os assuntos já abordados na disciplina não são retomados na apresentação de um novo assunto, o que mostra uma fronteira rígida em volta de cada assunto abordado; já quando se atribui o grau +, isso significa que só serão retomados assuntos que são essenciais para o desenvolvimento do próximo assunto; o grau – significa que, nos novos assuntos tratados, há alguma menção ou alguma relação com os assuntos já estudados e, por fim, o grau – – indica completa ausência de fronteira entre os assuntos, fazendo com que os conteúdos já vistos formem a base do novo assunto tratado, relacionando-o e inserindo-o dentro do todo já estudado.

Na próxima semana, estabeleceremos fronteiras não somente entre conteúdos pertencentes a uma mesma disciplina, mas também entre conteúdos pertencentes a disciplinas distintas.