Por Rodrigo MANZ de Paula Ramos
A BNCC determina o Multiletramento como uma importante abordagem para o ensino na área de Linguagens. Mas a que se refere? Multiletramento (Multiliteracy) é um termo criado na década de 90 por um conjunto de acadêmicos (New London Group) empenhados no desenvolvimento de uma nova pedagogia de alfabetização. Segundo Mary Kalantzis e Bill Cope, membros deste grupo, o termo se refere a dois grandes aspectos da comunicação e da representação na atualidade: a variedade de convenções de significados nas diferentes esferas da vida (cultural, social ou de domínio específico) e a multimodalidade resultante das características dos novos meios de informação e comunicação.
O primeiro aspecto, referente às variedades linguísticas, tem se tornado cada vez mais relevante para as formas de interação em diversos contextos sociais. Por esse motivo, a alfabetização tradicional, focada primordialmente nas regras formais e no cânone literário de um único padrão de uma língua, não é mais suficiente. As condições sociolinguísticas do dia-a-dia requerem que preparemos os educandos para estarem aptos a transitar pelos vários ambientes sociais nos quais as convenções da comunicação podem ser muito diferentes. Tais diferenças são consequências de diversos fatores como cultura, classe social, gênero, experiência de vida, campo de trabalho, assunto ou disciplina acadêmica. Portanto, o multiletramento propõe uma alfabetização que seja tributária da Linguística Contrastiva e explore as variantes da língua.
Já o segundo aspecto, a multimodalidade, se refere ao fato de que atualmente, o registro da palavra não se dá apenas pela escrita. E, verdade seja dita, apesar de a linguagem escrita gozar, tradicionalmente, de mais prestígio, ela nunca foi a única forma de comunicação e registro. Há tempos, diferentes meios de gravação e transmissão, tais como oral, visual, auditiva, táctil, gestual e espacial, com suas próprias regras e padrões de significado, relacionam-se entre si e com o meio da escrita. Graças às tecnologias digitais, estes meios têm ganhado cada vez mais espaço. É por isso que é necessário ampliar a pedagogia de letramento, para que esta não privilegie unicamente as representações escritas, mas, sim, busque uma formação que vá além. Ou seja, nos ambientes de aprendizado de hoje, é necessário suplementar a tradição da leitura e escrita com representações multimodais; particularmente, com os novos meios digitais.
Assim, a abordagem de multiletramento está em consonância com os preceitos da BNCC de preparar o educando para a vida social e profissional e o pleno exercício da cidadania, de ampliar a utilização das novas tecnologias no aprendizado e, ainda, corrobora com os ideais democráticos e de inclusão defendidos pelo documento.